11 de fev. de 2010

Periferia pede passagem




Fonte: Jornal Radcal

Com poesia e palavras certeiras na cabeça, o rapper GOG solta o verbo para o Radcal.
Prestigie posições periféricas, pancadas poéticas, papo parabólico para povo pedindo passagem pelo pensamento precurssor. Proponho: passeie pela proposta preciosa: G-O-G! Prepadad@?

GOG é mc, poeta, correria, empresário, super politizado, incansável nas causas sociais. Cheio de projetos e planos, GOG trocou uma idéia especial com a gente aqui do Jornal Radcal. É ritmo e poesia na veia, se liga aí!

O que veio antes para o GOG? O rap ou a poesia?

A poesia. Ainda criança meus pais me apresentaram Cecília Meireles. Acho que esse contato foi o início da poesia. Meu despertar aconteceu nas primeiras letras, as pessoas ficavam impressionadas e na seqüência perguntavam: “quem escreveu isso?”.


Ter mãe professora influenciou no seu caminho ? Como foi a relação com a escola e com seus pais?

Minha mãe sempre foi muito rígida com o nosso estudo. Eu sempre tive facilidade no aprendizado, assimilava tudo rapidamente e era aluno destaque. Sempre fui aluno da escola pública. Nos anos de 1960, 1970 e início dos 1980, a qualidade do ensino era bem melhor por vários motivos, desde os salários dos professores, até o respeito e credibilidade que os mesmos contavam junto à sociedade. Creio que seja essencial resgatar esse espírito. O desafio é despertar em todos a importância da educação na formação social do ser humano.

O que o rap significa na vida do poeta?

O rap me resgatou de uma fábrica em série. Principalmente estando em Brasília: “Estude, forme-se, gradue-se, seja funcionário público ou abra um escritório”. Não que isso seja errado, mas percebo que contribuo muito mais promovendo "Convulsão Social", "Abalos sísmicos" em corações e mentes.

É isso que te inspira?

Sim. O mundo, o bem estar das pessoas, a superação dos desafios e a felicidade de poder cooperar positivamente para uma melhoria comum. Me sinto um instrumento dessa estratégia.

O que significa para você o título de poeta?

É uma grande responsabilidade, mas procuro encarar como um carinho, uma forma das pessoas me agradarem e demonstrarem respeito.

Você acha que o fato de ser considerado por todos como poeta, dentro e fora do rap, trouxe mais auto-estima para os jovens das Periferias?

Sim. Brasil com "P" é prova disso. Todo Periférico tem orgulho de dizer que alguém, igual a ele, que sempre estudou na Escola Pública, que vem de ascensão nordestina e é fruto da Afro-Diáspora, foi capaz de construir uma poesia só com a letra "p". Isso eleva a auto-estima e cria um pressuposto.


Você vai lançar um livro esse ano. Conta essa ótima novidade aí. Quando sai? Como nasceu a idéia? Já tem editora? Tá todo mundo cheio de curiosidade!

Pois é. Um livro em que falo de que forma concebi cada um dos meus discos. A necessidade surgiu quando percebi a grande quantidade de pessoas interessadas em ter acesso aos meus escritos. Foi muito bom relembrar, perceber o caminho trilhado. Na elaboração, contei com o apoio essencial e decisivo de Nelson Maca, professor de literatura da Universidade Católica de Salvador e membro fundador do Coletivo Blackitude-BA. O título do livro é A Rima denuncia e deve sair esse ano, pela Global Editora.

Qual o papel do rap enquanto lugar de fala da periferia? Os Racionais falam: "entrei pelo seu rádio tomei, cê nem viu". Como você vê essa responsa do rapper diante dos jovens das periferias?

Com o rap a periferia jamais será a mesma. Ele é o jornal do cotidiano e tem a linguagem do ouvinte. Só que não podemos cair na armadilha imediatista de reduzir suas matérias e temas a sangue e relatos descabidos, sem coerência. Muitos, ao longo dos anos perceberam isso, outros continuam trabalhando do jeito que o sistema quer. Informação, responsabilidade, amor, trabalho. Seguindo essas relações o hip hop é insuperável na sua didática.

Para onde caminhou o rap até agora? Onde ele vai parar?
Para ser a música do planeta, isso é inevitável. O desafio é manter-se na trincheira e ter a lembrança histórica de que a proposta maior é não repetir os erros e a ignorância do opressor.


A violência e a expansão das drogas parecem uma epidemia, principalmente nas áreas mais pobres. Ainda é possível brecar este processo? Como?

A única maneira de brecar o processo é uma grande reflexão sobre o papel do povo da periferia na manutenção dessa engrenagem. Quem vende , lucra, mas até que ponto? Quem consome, financia algo. O que, ou quem será? Não dá pra ficar reclamando da situação, sendo um financiador dela. Eu cito minha caminhada: não bebo, não fumo, nunca coloquei um cigarro de maconha na boca, muito menos química, e, mesmo assim, consegui meu destaque. Precisamos de exemplos de vitória, e que não sejam exceção, e sim regra.

Como você acha que deveria ser a escola para responder às necessidades e expectativas dos jovens da atualidade?

O primeiro ato seria a derrubada dos muros, pra que qualquer um pudesse entrar, sentar e assistir uma bela aula, ampliando seu conhecimento. Ou seja: escola para quem precisa, escola para quem precisa de escola. Não entendo, até hoje, porque um morador não pode pedir licença e assistir uma aula na qual tenha interesse. É a burocracia do sistema e aceitação das pessoas que tornam essa relação acabada, imutável. A escola particular surge como uma opção à pública, quando deveria ser um complemento. É um salve-se-quem-puder lamentável. O conteúdo didático deve ser complementado dia a dia com parte da vida do estudante, caso contrário não será atraente. É nesse ponto que as políticas públicas de ensino têm falhado, apesar de muitas vezes serem bem intencionadas.

Poeta, dá uma letra aí na galera Radcal.

A família tem total importância na nossa formação, parece óbvio, mas é bom reforçar. Leiam, criem uma estrutura, se superem todo dia e tomem cuidado com as armadilhas. Até a vitória!


Dicas de livro do GOG

Colecionador de Pedras - Sérgio Vaz
Capão Pecado - Ferréz
A Arte da Guerra - Sun Tzu
Gosto de África - Joel Rufino do Santos
Suburbano Convicto - Alessandro Buzo

Dicas de filmes

Zumbi Somos Nós - documentário dirigido pela Frente 3 de fevereiro em 2008, que discute o racismo na sociedade brasileira.

Além do Cidadão Kane – documentário de Simon Hartog produzido em 1993 pelo canal 4 da BBC, que discute o poder da rede Globo.


Cartão Postal Bomba

O DVD Cartão Postal Bomba já está nas lojas. GOG traz nova proposta de gravação, captação de som, apresentação e distribuição e uma lista extensa de participações especiais que envolvem nomes como Maria Rita, Lenine, Gerson King Combo, Paulo Diniz, Nego Dé, Ellen Oléria, Indiana Nomma, Rapadura, Mascoty, entre outros.
A banda é aquela que sempre acompanha o poeta: Angel Duarte (baixo e voz), Kiko Santana (violão e voz), Richelmy (percussão), Ted (teclados), Ariel Feitosa (guitarra e produção musical), Júnior (bateria) e Dj A nas pick ups.
Para adquirir acesse: www.gograpnacional.com.br . No site tem toda a agenda de shows do GOG e todas as novidades para 2009.

6 comentários:

Renato Fausto disse...

Esse é o poeta que representa Brasília no mundo todo. Salve Genival orgulho e respeito na fita!
Firmão bom guerreiro

Janaína Santos disse...

parabéns a equipe pela entrevista, adorei as dicas do gog e conhecer um pouco mais o pensamento dele

Felipe Soul disse...

Não é todo dia que a gente tem acesso a uma entrevista tão elaborada, não esperaria nada menos da Griô Produções, tampouco do POETA DO RAP NACIONAL!

Chico Cruz disse...

"O rap me resgatou de uma fábrica em série". Realmente o GOG só nos surpreende. Uma das mentes mais brilhantes do país, referência de letra e estilo e causas sociais.

NegoRap disse...

a rua é nos gog, tamo juntu

Craudim disse...

Excelente entrevista. Quem é o entrevistador? Porque o GOG a gente já conhece

 

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